quinta-feira, 11 de abril de 2013

Infância abandonada


Me vejo fazendo esta pergunta repetidas vezes: o que estão fazendo com nossas crianças? As discussões com relação a este tema são inúmeras: desde os casos de abandono “ao pé da letra” até o mais novo golpe. A lei sancionada há pouco tempo pela presidenta Dilma fala da obrigatoriedade de matrícula de crianças de 5 anos de idade no ensino fundamental, até o ano de 2016. Não diria que foi o golpe de misericórdia, pois depois de tudo que já vi e ouvi com relação à infância, infelizmente não me resta outra alternativa a não ser acreditar que ainda tem mais. Ah, com certeza, o ser humano é capaz de tal façanha!

A infância está sendo abandonada, aos poucos, através de atitudes radicais e sem reflexão por parte dos adultos. Elas são abandonadas dentro de seus próprios lares, pela falta do amor verdadeiro e para fora deles, quando a família desestruturada não os consegue criar, não os consegue orientar, educar, amar. São abandonadas quando são agredidas, violentadas, mortas sem piedade. São abandonadas quando são medicadas para “curar” ou “tratar” males que o próprio adulto desconhece, mais especificamente a classe médica. Quando este médico despreparado para os males da alma, o que infelizmente acontece com a maioria, fala para uma família igualmente despreparada, com medo do que também desconhece, cansada do próprio fracasso, é claro que encontrará ouvidos prontos e desesperados por palavras que tranquilizem. Tranquilizam sim, mas nada passa de uma ilusão. O que o médico diz não alcança a verdadeira causa do que possa ser um “distúrbio” qualquer. E então, aplica-se a alopatia para poder “controlar”, mas não para realmente tratar. Assim, estes pais acreditam que tudo está resolvido. Foi controlado, foi dado um nome e o passo seguinte é o remédio, dado a uma criança que sequer foi avaliada em toda a sua dimensão, em toda a sua complexidade. Esta criança não é ouvida, não é observada, não se olha para ela com os olhos de quem realmente quer ajudar, curar.

A infância está sendo abandonada mais uma vez, quando se obriga a colocá-la numa escola com as exigências de um ensino fundamental, aos 5 ANOS DE IDADE!! A educação infantil, que ainda hoje se dedica a crianças de 4 e 5 anos, está pedagogicamente estruturada para receber e orientar crianças desta faixa etária. Isso já existe. Por que, então, a necessidade de mudar isto e colocá-las tão cedo numa etapa de ensino que não foi planejada para elas? Como já disse em outra postagem, a criança passa por diferentes etapas de desenvolvimento cognitivo, motor, emocional, etc, de acordo com sua idade e isso precisa ser respeitado. Continuam sendo queimadas etapas importantíssimas para o desenvolvimento sadio de um ser humano e estes serão os adultos que amanhã estarão por aí, disputando vagas em faculdades, em empresas, procurando se relacionar com outras pessoas, enfim, procurando viver. Desta forma, estamos permitindo o desrespeito a estas crianças, em todos os sentidos, crianças que, num futuro não muito distante, serão adultos repletos de limitações, de incertezas, de dúvidas, de fracassos como seres humanos. Aliás, fazendo uma pequena correção, estamos desrespeitando estas crianças que, cada vez mais, não chegam à adolescência, muito menos à idade adulta, sem precisar de acompanhamento psicológico.

Nossas crianças sofrem e, enquanto nada for feito, continuarão sofrendo em suas próprias vidas a responsabilidade sem fim de precisar satisfazer a demanda dos desejos do mundo dos adultos.

Deixo aqui uma imagem, para mim muito triste, que simboliza num ato de alguns segundos, o que acontece num âmbito muito maior: no colégio onde minha filha estuda (colégio que abriga estudantes de uma fatia abastada do bairro de Alphaville, em Barueri-SP), há uns dias atrás, precisei esperar alguns minutos para poder trocar umas palavras com uma das coordenadoras. Aguardei no local onde as crianças são “deixadas” pelos pais, quando não têm sequer alguns minutos para descer do carro e se despedir. Num determinado instante, me deparei com a cena que me cortou o coração. Como mãe, imaginei se fosse minha filha. Que dor.... Desceram dois irmãos de um carro, o maiorzinho cuidando do outro pequenino, que não devia ter mais de 3 anos. Cada um puxava sua mochila de rodinhas e foram em direção à rampa de acesso às salas de aula. A cena termina com o irmão mais velho dizendo: “vamos, vamos...”, segurando forte a mão do pequenino que acenava sem parar para um pai que já não estava mais lá e dizia “tchau, papai. Tchau, papai....”
Um abraço a todos!





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