domingo, 26 de julho de 2015

Uma singela homenagem...

Em visita ao Centro Cultural de São Paulo, no último dia 24.7.15, tive o grande prazer de apreciar a exposição de fotografia denominada "Escassez/Desperdício". Tratava-se do Prêmio Syngenta de Fotografia, em parceria com o Ministério da Cultura.

Chamou minha atenção, de forma especial, por constatar, através de imagens fantásticas, o grande abismo no qual a população mundial se encontra, com relação à escassez dos nossos recursos naturais, fruto da inconsciência de todos nós e de políticas que em nada beneficiam o nosso planeta, ao contrário. Infelizmente, são políticas para poucos. Fotografias que mostram o quadro catastrófico mundial, mas no final, ainda há espaço para imagens que deixam claras algumas soluções. Vivemos hoje, no Brasil, os primeiros passos para a escassez da água, com atitudes irresponsáveis e diárias por parte da maioria da população e das políticas já citadas anteriormente. Foi exatamente esta questão da escassez da água, que assola violentamente estados como São Paulo e outras questões que me incomodam profundamente, que me levaram a visitar esta exposição, levando-me a ver a questão "escassez" como algo muito mais abrangente e iminente. E que ainda há como melhorar este quadro mundial, mas tem que ser rápido. Infelizmente, entre os fotógrafos premiados, não havia nenhum brasileiro ou de outra nacionalidade que tivesse relatado imagens deste nosso país, mas o que acontece aqui, talvez numa escala um pouco menor, mas não tanto, não difere do que foi constatado no mundo afora.

As imagens e trechos colocados aqui falam por si. Não será necessário nenhum comentário a mais de minha parte. Esta é minha homenagem a um lindo trabalho realizado por tantas pessoas, fotógrafos, como forma de passar a mensagem de que se faz urgente a necessidade de conscientização com relação a como utilizamos os recursos que temos a nosso dispor, os alimentos, os animais e o lixo que geramos.

Aproveitem!!

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O Prêmio Syngenta oferece uma plataforma internacional a fotógrafos, numa oportunidade de explorar questões de importância global. Nesta edição, ele foi dividido em duas partes: a Competição Profissional, como oportunidade para fotógrafos profissionais enviarem fotos e uma proposta para um projeto relacionado ao tema e a Competição Aberta, para fotógrafos amadores e profissionais.

"Muitos de nós temos pouquíssima consciência da fragilidade dos recursos dos quais dependemos para sobreviver. A medida que o crescimento populacional e econômico leva ao aumento do consumo global, vários países enfrentam uma crescente escassez de recursos. A competição e até conflito, por recursos como água doce, terras cultiváveis e florestas é um perigo cada vez maior. Ao mesmo tempo em que a escassez é evidente em toda a parte, ela convive com um enorme desperdício. Enquanto mais de 800 milhões de pessoas no mundo dormem com fome, outras jogam fora mais da metade dos alimentos que compram. Um terço da produção mundial de alimentos é perdida ou desperdiçada ao longo da cadeia de fornecimento. No Reino Unido, 30% dos legumes e verduras não são colhidos porque não satisfazem os critérios de aparência esperados pelos varejistas. Isto não é simplesmente um desperdício de alimentos, mas também de terras, água, insumos e mão-de-obra voltados ao seu cultivo.

Em um mundo de recursos limitados, a escassez e o desperdício tornam-se questões sociais, políticas e ambientais fundamentais da nossa era. Nos últimos 50 anos, a demanda mundial por recursos naturais duplicou. Se continuarmos a usar recursos e a gerar lixo nas proporções atuais, até 2030 precisaremos do equivalente a dois planetas. Mas só temos um. Algo precisa mudar".


(Jornada de crianças pelo deserto à procura de água - Paquistão)

"Água é uma tipologia fotográfica e uma exploração de um recurso natural em crise. Um relatório das Nações Unidas alerta para uma 'crise iminente' e avisa que, até 2025, quase 3,4 bilhões de pessoas enfrentarão escassez de água. À medida que a população mundial cresce e mais pessoas passam a viver em cidades, nossa dependência de água doce, cada vez menos disponível, transformará a forma como vivemos, definindo, no final, quem viverá e quem morrerá. Este estudo fotográfico em andamento sobre a água , que conta com o apoio das Nações Unidas, WaterAid, VSCO e outras organizações, continuará a monitorar problemas hídricos no mundo todo, buscando explorar as nossas interações com o recurso mais vital para a vida na terra".

"... Principal lixão no centro de Freetown (Serra Leoa), onde lixo e dejetos humanos foram acumulados em enormes cavernas... Enquanto os problemas com a gestão da água e do saneamento, junto ao crescimento populacional, não forem tratados seriamente, o risco de epidemias, tais como cólera, permanecerão".

"Logo cedo, mulheres e meninas caminham por horas e fazem filas para cavar água para a superfície de um leito de rio seco. O tempo que mães e filhas passam buscando essa água salobra prejudica a educação das crianças, a conexão com a família e a capacidade das mulheres obterem empregos que aumentariam a sua renda familiar e melhorariam as suas comunidades".

"Meninas da Escola K. Gandhi, em Farrukhabad, na Índia, chegam, pela primeira vez, ao Rio Ganges, um dos rios mais longos e poluídos do mundo. No final da vida dos hindus, os seus corpos são cremados e jogados no rio. Os hindus mais pobres muitas vezes não conseguem pagar pela cremação correta dos corpos, portanto, cadáveres queimados pela metade flutuam rio abaixo. Além disso, a poluição proveniente de fábricas de couro levou a altos níveis de mercúrio, arsênico e cádmio nas águas do rio. 'Eles não se importam com o rio', diz Amit Agnihotri, um jornalista local que vive às margens. 'Estamos trabalhando duro para mudar essas coisas, mas a corrupção impede que as medidas certas sejam tomadas'".
(Mustafah Abdulaziz - EUA - vencedor do 1º prêmio da Competição Profissional)

(Estruturas urbanas sendo construídas no meio do rio Buriganga, em Daca)

"Enquanto comemoramos 400 anos da cidade de Daca, o rio Buriganga, que exerceu um papel fundamental no seu crescimento, está lutando para sobreviver. Hoje, está sendo fatalmente sufocado, em uma situação extremamente frágil e incapaz de percorrer o seu curso natural. Nós, a população de Daca, estamos matando nosso rio. A população da cidade não pára de crescer dia após dia. O rio Buriganga é a rota de transporte mais usada para outras partes do país. Várias fábricas e indústrias ainda estão sendo instaladas às margens do rio. Produtos químicos usados em curtumes, esgoto e outros resíduos industriais são despejados diariamente na água. Acrescentam-se ao cenário de poluição, quase 700 fábricas de tijolos e estaleiros às  margens do rio e óleo de motor utilizado  por barcos e embarcações a vapor. O rio de 41 quilômetros de comprimento que cruza a cidade de Daca já nos abençoou, no passado, com a esperança e o sonho de construir uma nova cidade. Contudo, hoje, a própria cidade está causando sua morte".
(Rasel Chowdhury - Bangladesh - vencedor do 2º prêmio da Competição Profissional)

(Novo complexo habitacional - Emirados Árabes Unidos)

"Meu projeto atual, 'Consumo', explora aspectos da cadeia de suprimentos associada ao consumidor moderno: desde a extração de recursos, processamento, manufatura, produção de energia, construção, produção de alimentos, logística e venda no varejo, até a gestão e o reaproveitamento do lixo.

Neste processo, acabo examinando a forma como a paisagem natural e antiga  dos Emirados Árabes está sendo utilizada e consumida. Faço a maior parte da minha pesquisa com imagens de satélite. A recente exploração da até então intocada paisagem dos Emirados mostra a rapidez com que os recursos podem ser consumidos e os ambientes transformados para sempre quando o crescimento é desenfreado.

Os países do Conselho de Cooperação do Golfo (GCC) são conhecidos pela sua riqueza de petróleo e gás e, na sua grande maioria, pela sua dependência desses recursos e falta de diversificação econômica (com exceção dos Emirados Árabes Unidos). O 'boom' populacional dos últimos anos, principalmente devido à imigração econômica, já sobrecarregou os escassos recursos naturais locais. A dependência de produtos importados, água dessalinizada e ar condicionado, combinada com atitudes políticas extravagantes, resultaram no indice de emissão de carbono per capita mais alto do planeta.

A extração exacerbada de águas subterrâneas e pastagem excessiva por camelos domésticos estão levando a uma desertificação exagerada nos Emirados Árabes Unidos. Além disso, a cada vez maior dependência de água dessalinizada está levando ao envenenamento de um ambiente marinho antigamente rico, devido ao refluxo da salmoura quente e concentrada".
(Richard Allenby-Pratt - Reino Unido - vencedor do 3º Prêmio da Competição Profissional)

(Shijiazhuang - China)

"Estudos científicos mostram que várias cidades chinesas estão se tornando impróprias para a vida humana. Os níveis de poluição atmosférica são atualmente concentrados e perigosos. Qual é o sentido da prosperidade econômica e da riqueza se as pessoas têm que viver em cidades onde não podem respirar e onde as crianças não podem brincar ao ar livre? A escassez de recursos é evidente em todos os habitats: oceanos, rios, lagos e florestas. E o ar limpo, atualmente, também se tornou um recurso escasso em vários lugares do planeta".
(Benedikt Partenheimer - Alemanha - vencedor do 1º Prêmio da Competição Aberta)

(Uummannaq - Groenlândia)

"Encontro inspiração nesses pequenos vilarejos, distantes do mundo, muitas vezes mergulhados em tédio e esquecidos. Tento recriar a atmosfera desses lugares estranhos por meio da fotografia e do vídeo. Como essas paisagens parecem fictícias, questiono a realidade e o futuro do mundo. Elas mostram um universo inquietante, diante do abismo, que sob certa luz parece o fim do mundo.

A ilha de Unmmannaq, na Groenlândia, é onde vive a comunidade isolada do povo Inuit, que sobrevive entre a modernidade e a tradição, o desastre ecológico e a grandiosidade natural, o abandono e a resistência. A imagem mostra o centro de triagem de lixo, onde a queima a céu aberto é responsável por um alto índice de contaminação por dioxina. Estou questionando a realidade e o futuro do mundo".
(Camille Michel - vencedora do 2º Prêmio da Competição Aberta)

(Mulheres turcanas coletam água para pessoas e gado em um poço caseiro de 20 m. de profundidade no vilarejo de Kaitede, no Quênia)

"A série sobre a seca no Quênia me afetou mais do que qualquer outro tema que eu tenha trabalhado. O principal motivo disso foi que senti que estava documentando uma recordação terrível para todos os seres humanos. Essa tragédia, onde animais e pessoas lutavam para sobreviver à seca, foi como uma visão de pesadelo. Um futuro que pode estar esperando por todos nós se não mudarmos profundamente os nossos hábitos e reconsiderarmos a forma como compartilhamos os recursos do nosso planeta com um maior sentido de responsabilidade".
(Stefano de Luigi - Itália - vencedor do 3º Prêmio da Competição Aberta)


Soluções


"Emissões provenientes de combustíveis fósseis, mudanças climáticas, agricultura, extinção acelerada de espécies, poluição química e megacidades: entramos em uma nova fase da história do planeta, o Antropoceno - a era humana".

"Nossas demandas sobre a natureza estão aumentando: estamos devorando nosso capital natural, fazendo com que seja mais difícil sustentar as necessidades do futuro. Somos hoje a força dominante que está moldando e alterando o planeta, como um todo. Nosso impacto não é mais local, é global. O impacto de uma população mundial crescente multiplicará a pressão que colocamos sobre os recursos naturais. Nosso desafio é garantir que haja terra, alimentos e água suficientes para as gerações futuras.

Se concentrássemos a história do nosso planeta em um único ano, os humanos teriam existido pelos últimos 23 minutos, mas consumido um terço dos recursos nos últimos 0,2 segundos. Os alimentos que consumimos, as roupas que usamos, os produtos que compramos e o lixo que geramos esgotam os recursos naturais e afetam o nosso meio ambiente. E conforme a riqueza aumenta, também aumenta a nossa 'pegada'. Nosso desafio é permitir o crescimento econômico ao mesmo tempo em que criamos um futuro sustentável por meio do progresso tecnológico.

Manshiyat Nasser, ou 'Cidade Lixo', como é mais comumente chamada, é uma favela com uma população de cerca de 30.000 pessoas nos arredores das Montanhas de Moqattam, perto do Cairo. Quase todos os espaços estão cobertos de lixo. Os Zabbaleen, ou 'pessoas do lixo', coletam o lixo dos moradores do Cairo por um serviço porta a porta que cobra uma pequena taxa. Eles levam o lixo para casa e separam os itens em busca de materiais recicláveis. Muito mais à frente do que qualquer iniciativa 'verde' moderna, eles reciclam 80% do lixo que coletam, enquanto a maioria das empresas de coleta de lixo do Ocidente conseguem reciclar apenas 20-25%.

Até 2050, a demanda por alimentos irá duplicar. Entretanto, mesmo assim, um terço de todos os alimentos do mundo é desperdiçado por ano: quatro vezes a quantidade suficiente para alimentar mais de 800 milhões de pessoas subnutridas. Enquanto isso, 1,9 bilhões de adultos estão acima do peso. Nosso desafio é transformar os padrões de consumo, reduzir o lixo e produzir uma quantidade suficiente de alimentos sem usar mais recursos escassos e valiosos.

Precisamos nos perguntar como faremos para transformar os desafios da escassez e do desperdício em oportunidades. Isso pode ser alcançado: em 2013, a energia renovável atendeu um quinto da demanda energética mundial. Hoje, o papel é o produto mais reciclado da Europa, com um índice de reciclagem de 72%. Além disso, até 2050, 50% de melhoria na eficiência de combustíveis pode ser alcançada por meio de tecnologias e políticas atuais. 

Moldamos o nosso passado, estamos moldando o nosso presente e podemos moldar o nosso futuro de maneira responsável e sustentável".